Em contrapartida, perfis mais conservadores giraram em torno das postagens realizadas pelo presidente Jair Bolsonaro sobre ações institucionais voltadas para o desenvolvimento e benefício da agricultura e de pequenos produtores, como a liberação de águas da Barragem do Juá, em Pernambuco, e da distribuição de mais de 15 mil toneladas de alimentos para populações indígenas no Brasil. Esses perfis concentram-se no grupo azul (29,16% dos perfis), Grafo 2, e concentram a segunda maior interação acerca do tema (26,79% de interações). Nesse grupo, também estão presentes comemorações sobre a posse da ministra da Agricultura Tereza Cristina, eleita para presidir a Junta Interamericana de Agricultura, e a liberação de mais de R$ 3 milhões, por parte do governo federal, para assistência técnica dos produtores de orgânicos.
No caso dos grupos rosa (3,30% dos perfis) e laranja (9,19% dos perfis), as postagens podem ser consideradas de caráter transversal, pois apesar de fazerem referência à agricultura familiar debatiam outras questões como a pauta indígena, o desmatamento, a crise hídrica, a exploração do Cerrado e crimes ambientais cometidos. No grupo laranja a conta @empatillada foi a que teve o maior engajamento devido a uma publicação sobre a discussão de veganos contra a população indígena no que se refere ao abate de animais para a subsistência. É importante destacar que o grupo laranja conta com o engajamento de perfis indígenas e indigenistas sobre o tema da agricultura e de outras pautas transversais.
Interessante notar que, no caso do Facebook, a pauta da agricultura familiar está mais ligada a posições econômicas do que político-sociais, enquanto no Twitter as discussões políticas pulsam em torno do tema, trazendo outras questões relacionadas ao debate ambiental para a pauta.
No Facebook foi marcante a preocupação com o abastecimento de supermercados e da população em geral nos temas que mais engajaram o debate, além das medidas tomadas pelo governo federal para benefício de pequenos agricultores. Mesmo as postagens de políticos de esquerda estavam voltadas para a segurança alimentar da sociedade, apontando o papel do MST e de sua cozinha solidária no fornecimento de gêneros alimentícios para pessoas em situação de vulnerabilidade.
No caso do Twitter, dois grandes grupos se destacaram: os que debatiam sobre a morte de um agricultor e os que se mostraram entusiastas das ações do governo federal e eram impulsionadores das postagens institucionais. Além desses, outros dois grupos, com menor engajamento, indicaram tópicos importantes: a questão indígena e a necessidade de proteger suas terras e sua cultura a despeito do desmatamento e do avanço da agricultura extensiva para os territórios dessas comunidades; e a vinculação do debate em torno da agricultura familiar, sobretudo da pequena propriedade, com questões relacionadas à crise hídrica, a incêndios e ao desflorestamento.
2.3 – Energia e crise hídrica
O debate nas redes sociais a respeito da questão energética e a recente crise hídrica no país é mobilizado por perfis diversos – atores políticos, canais de mídia (tradicionais e alternativos) e portais de conteúdo sobre petróleo e combustíveis em geral -, mas a polarização entre campos políticos se sobressai e é destaque nessa pauta.
No Facebook, a temática foi assunto, entre junho e meados de setembro de 2021, de aproximadamente 2,25 mil postagens ‒ que alcançaram, nesse período, mais de 15,7 mil interações, entre reações, comentários e compartilhamentos. A discussão se debruça, principalmente, sobre o preço dos combustíveis no Brasil, que vem sofrendo uma série de aumentos nos últimos meses e que, na plataforma, é alvo de disputa de opiniões (em geral, de viés político).
De um lado, perfis de membros do governo e de políticos aliados – @jairmessias.bolsonaro, @ZambelliOficial, @biakicisoficial, @filipebarrosoficial e @carlosjordyoficial – insistem na tese de que o governo federal tem tomado medidas para reduzir impostos e, dessa forma, baixar o valor dos combustíveis, e atribuem eventuais altas a encargos relativos a governos estaduais. Postagens compartilham informações sobre a possível redução da conta de luz com a privatização da Eletrobras e, também, divulgam acordos e políticas desenvolvidas sobre o Biogás: transformação do lixo em energia, um programa do Ministério do Meio Ambiente – e algumas associações como a ABCP, ABETRE, ABRELPE e ABIOGAS – que pretende desburocratizar a recuperação energética de resíduos sólidos e impulsionar um problema ambiental em energia no Brasil.
Outra postagem que se destaca no contexto dos atores clássicos da política institucional – tanto pelo forte engajamento na plataforma, quanto pela frequência – é a live do presidente Jair Bolsonaro, em que fornece esclarecimentos sobre a construção do Ramal do Apodi no estado do Rio Grande do Norte. De acordo com a transmissão, essa obra integra o eixo norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco e vai beneficiar vários estados do Nordeste. A live ainda enfatiza a quantidade de quilômetros que o Ramal percorrerá, um total de 115,3 quilômetros de extensão, e os valores investidos na obra do governo federal, cerca de R$ 938,5 milhões.
Políticos de esquerda, centro-esquerda e de centro se unem para fazer oposição e crítica ao governo federal. Nesse contexto, destacam-se os perfis @AndreJanones, @depmarcomaia e @gleisi.hoffmann, que salientam o aumento da conta de energia elétrica. Menções a esse aumento contrastam a inflação com outros aspectos do cenário econômico brasileiro, como o fim do Auxílio Emergencial, o não reajuste do valor das parcelas do Programa Bolsa Família e o aumento do preço de produtos como arroz e carnes.
Além dos atores políticos, os perfis das mídias tradicional e alternativa – como @quebrandootabu, @g1 e @MidiaNINJA – enfatizam o aumento constante nas taxas da conta de luz, do gás de cozinha e dos combustíveis, culpabilizando a administração federal e as políticas do ministro da Economia Paulo Guedes. Por outro lado, canais de comunicação mais alinhados ao governo federal – por exemplo @cpgbr – propagam informações sobre energias renováveis e a possibilidade de geração de empregos com a entrada de novos empreendimentos energéticos no país.
Vale salientar que postagens repercutem como a seca de rios tem afetado o cotidiano de localidades que dependem dos canais para transporte e reivindicam preços mais acessíveis do gás de cozinha, posto que as refinarias acompanham os patamares internacionais de preços de importação, além do acréscimo do custo do transporte e do seguro.
No Twitter, durante o mesmo período ‒ entre junho e meados de setembro de 2021 ‒, o debate sobre questões energéticas e a crise hídrica contabilizou mais de meio milhão de postagens. O momento de maior engajamento nesse período foi no dia 17 de junho, quando a temática atingiu cerca de 37 mil menções na plataforma. As publicações destacavam a privatização da Eletrobras, tal debate é fortemente polarizado e politizado. De um lado, políticos alinhados ideologicamente à esquerda e à centro-esquerda afirmam que as usinas hidrelétricas apresentam um custo menor e, portanto, mais acessível do que as usinas termelétricas movidas a gás e que a saída dessa empresa do Brasil vai acarretar maior custo e comprometer – ainda mais – a renda dos consumidores. Apresentando uma perspectiva contrária, os aliados do governo federal defendem a privatização e a trazem como uma ação positiva que pode ter consequência imediata na economia do país com a diminuição do valor da conta de energia e, ainda, intensificar a recuperação da empresa no que diz respeito a investimentos e transmissão de energia.