Democracia Digital

Digitalização e Esfera pública no Brasil

FGV ECMI analisa a polarização do processo eleitoral em webinar

Convidados compararam as eleições mais recentes realizadas no Brasil e na Alemanha

No dia 3 de novembro, a Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI) realizou o webinar “Eleições, polarização e redes sociais”. O evento teve mediação da jornalista da CBN Petria Chaves e contou com a presença do consultor político e de comunicação em Berlim e Bruxelas, Johannes Hillje; a professora de Ciência Política da Unirio Luciana Veiga; e o diretor da FGV ECMI Marco Ruediger. O encontro integra as atividades do projeto Digitalização e Democracia no Brasil, resultado de um convênio entre a Escola e a Embaixada da Alemanha em Brasília.

Ao fazer a abertura do evento, o coordenador de projetos da FGV ECMI, Amaro Grassi, deu as boas-vindas aos convidados e participantes e ressaltou a parceria que entra em seu terceiro ano consecutivo. Ele também falou da importância de fazer uma aproximação entre as experiências alemã e brasileira, em seus mais recentes processos eleitorais no contexto digital. Em seguida, o responsável pelo Fórum Democracia Brasil-Europa na Embaixada da Alemanha em Brasília, Emil Richter, também salientou a relevância do convênio e parabenizou o Brasil pela tranquilidade do processo eleitoral de 2022, num contexto altamente polarizado, qualificando-o como exemplar e destacando o papel do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A primeira fala foi de Johannes Hillje, que abordou o papel das mídias sociais nas eleições parlamentares da Alemanha, em 2021, por meio da qual é formado o governo federal. O especialista em comunicação e política elencou três considerações quanto ao processo. Na primeira, ele afirmou que, mesmo as mídias sociais tendo um papel importante nas eleições, mais de 80% dos alemães se informaram sobre as candidaturas pela televisão, índice que caiu para cerca de 50%, em se tratando das mídias sociais. O quadro está relacionado ao segundo ponto de Hillje, que defende que a televisão e o rádio têm maior credibilidade entre os eleitores alemães, sobretudo o conteúdo jornalístico.

Em terceiro lugar, o consultor falou que o ecossistema da desinformação também é uma ameaça à democracia no contexto alemão. Ele citou atores internos e externos que disseminam informações inverídicas que ganham lastro quando não passíveis de algum tipo de sanção. Quanto àquelas previstas em ordenamentos jurídicos, como o discurso de ódio, considerado conteúdo ilegal, a Alemanha tem sido vista como uma referência para outros países. Sua legislação prevê que tais publicações sejam removidas pelas plataformas em até 24 horas. Após cinco anos de operação dessa lei, estudos revelaram que no Twitter, por exemplo, houve uma diminuição de 10% do discurso de ódio circulante.

Luciana Veiga, que atuou como presidente da Associação Brasileira de Ciência Política no biênio 2020-2022, foi quem trouxe para a mesa a experiência brasileira. Sua fala foi mais na direção de entender alguns dos elementos que sustentam a polarização no Brasil e sua intensificação no período eleitoral. De acordo com a professora, o espectro de conservadorismo e progressismo sempre esteve presente no eleitorado brasileiro. No entanto, ela enxerga a atuação de Jair Bolsonaro como a dinâmica que levou o conservadorismo para o centro da tomada de decisão que acontece nas urnas. A apropriação dessa leitura moral de mundo, por sua vez, estaria alimentando discursos antissistema e anti-intelectual, aliados a teorias conspiracionistas. Organizada essa configuração, o conflito se torna essencial, nas palavras da pesquisadora.

Marco Ruediger buscou contribuir com o debate fazendo uma costura entre as participações anteriores. Para ele, a confiança tem um papel central no cenário apresentado, sem desconsiderar a importância de outros elementos citados. De acordo com o terceiro convidado, a atmosfera de desconfiança radicalizada, em cima de fatos e de narrativas que emergem de um contexto de desinformação, corrói a confiança, de modo que a frustração contínua do eleitorado dá sustentação à polarização. Nesse sentido, Ruediger defende um debate e uma dinâmica social e política que restabeleça a confiança nas instituições democráticas, tornando o contraditório um ponto de partida e não apenas de chegada. O webinar foi encerrado com perguntas do público e dos próprios participantes a partir de suas falas e perspectivas.

Webinar | Eleições, polarização e redes sociais


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