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Curadoria | Equidade racial: o horizonte de consolidação da democracia no Brasil

Publicações do Instituto Ipirapitanga reúnem reflexões de lideranças sobre os desafios contemporâneos do antirracismo

Por Mohara Valle*

O racismo é elemento que estrutura as desigualdades no Brasil, colocando a população negra em posição desvantajosa no acesso a direitos e, por outro lado, perpetuando privilégios para a população branca. Mesmo diante dessa realidade que tem sua origem no passado escravocrata do país — nunca superado — ações do movimento negro proporcionaram importantes conquistas de direitos. Há, no entanto, um longo caminho a ser percorrido pela sociedade brasileira para a consolidação da equidade racial e, consequentemente, de uma real democracia, que passa pelo imperativo da participação e ação efetiva também de pessoas brancas.

Voltado desde 2017 à defesa da democracia e liberdades no Brasil, o Instituto Ibirapitanga tem como um de seus eixos centrais o fortalecimento de movimentos antirracistas, por meio do programa Equidade racial. A partir dele, apoia iniciativas e organizações para o enfrentamento ao racismo estrutural no Brasil. Além da estratégia de apoio, o Ibirapitanga realiza ações de escuta e estímulo ao debate público sobre a questão racial, organizando e compartilhando os aprendizados desses processos.

O Caderno Ibirapitanga Branquitude: racismo e antirracismo, lançado em agosto de 2021, é uma das iniciativas do instituto nesse sentido, ao disponibilizar o registro das falas do encontro homônimo, realizado de 26 a 28 de outubro de 2020. Com abertura de Cida Bento, o caderno é organizado de acordo com os temas de cada diálogo, que abordaram limites e possibilidades de brancos na luta antirracista; alianças possíveis entre brancos e negros; o protagonismo negro no desvelar da branquitude; o papel da comunicação no antirracismo; e possibilidades de ação dos indivíduos diante da estrutura.

Refletindo sobre o lugar que a luta antirracista tomou no ocidente, especialmente após o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, que provocou reações antirracistas com reverberações significativas também no Brasil, marcado por casos de violência brutal contra pessoas negras, como nos casos de Miguel Otávio e João Pedro, o Ibirapitanga realizou o encontro com o objetivo de oferecer ferramentas para a ação, por meio do debate público sobre o lugar das pessoas brancas na perpetuação do racismo e, sobretudo, no seu combate. O encontro contou com as participações de Robin DiAngelo, Cida Bento, Thiago Amparo, Sueli Carneiro, Lia Vainer Schucman, Ana Paula Lisboa, Deivison Faustino, Lourenço Cardoso, Luciana Brito, Liv Sovik, Nic Stone, Tiago Rogero, Jurema Werneck, Thula Pires e Bianca Santana.

O registro desse evento compõe a série Cadernos Ibirapitanga, iniciada pela publicação Equidade racial: desafios no Brasil contemporâneo. Esse caderno disponibiliza as contribuições e aprendizados de uma reunião de escuta a lideranças, realizada pelo Instituto Ibirapitanga em 2018, com o objetivo de alimentar a estruturação de seu programa Equidade racial. A publicação parte do texto base produzido por Sueli Carneiro e Denise Dora, em que abordam o aniversário de 30 anos da Constituição Federal do Brasil (1988), marco “da redefinição jurídica do Estado brasileiro”. A abertura traz uma reflexão de Edson Cardoso sobre a marca do racismo na formação do Brasil. Em seguida, o material apresenta as discussões da reunião, que abordaram: desigualdades raciais no país; reconhecimento e legitimação da produção intelectual negra; Direito de antidiscriminação e justiça interseccional; e representação simbólica e representatividade. Essa seção conta com o registro das participações de Márcia Lima, Cida Bento, Douglas Belchior, Sueli Carneiro, Átila Roque, Djamila Ribeiro, Amilcar Pereira, Winnie Bueno, Denise Dora, Thula Pires, Roger Raupp Rios, Silvio Almeida e Bianca Santana.

Os Cadernos Ipirapitanga Branquitude: racismo e antirracismo e Equidade racial: desafios no Brasil contemporâneo estão disponíveis no site do Instituto Ibirapitanga.

*Mohara Valle é gestora de conteúdo do Instituto Ibirapitanga, bacharel em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela UFF e mestranda no Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da UFRJ, na linha de pesquisa Tecnologias da comunicação e estéticas.

** Este artigo de curadoria é uma colaboração da FGV DAPP e do Instituto Ibirapitanga para o projeto Democracia Digital.

***As manifestações expressas por integrantes dos quadros da Fundação Getulio Vargas, nas quais constem a sua identificação como tais, e por convidados, em artigos e entrevistas publicados nos meios de comunicação em geral, representam exclusivamente as opiniões dos seus autores e não, necessariamente, a posição institucional da FGV.

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